Complicamos o que é simples. Levamos tudo muito a
sério. Criamos problemas para ocupar nossas mentes. Somos artificiais e
superficiais. Como diz Dosho Saikawa Roshi, só os homens não são somente
homens. “Os pássaros são verdadeiramente pássaros, os peixes são verdadeiramente
peixes” – elucida o mestre zen. Não nos aceitamos como humanos e esquecemos que
somos falíveis, precários e transitórios. E, principalmente, não enxergamos que
essa é a dinâmica da vida, que tudo isso é maravilhoso, intrínseco ao universo.
Ao contrário: não queremos mudanças, queremos ter o controle de tudo. Medo,
ansiedade, gula, ambição e uma desesperada fome de prazer. Tudo deforma a
imagem da realidade que se reflete em nossa mente, aponta Thomas Merton.
“Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o
vento passar, vale a pena ter nascido”, disse Fernando Pessoa. Podemos
imaginá-lo nesse ato contemplativo, com felicidade plena, ao encontrar o
singelo sentido da vida. O poeta não apenas ouviu com seus ouvidos, mas com os
ouvidos dos ouvidos. Ele – assim como revela Saint Exupèry, em O Pequeno Príncipe - capta o essencial
que é invisível aos olhos. “Só se vê bem com o coração”, ensina a personagem
infante. Podemos imaginar Pessoa tendo ouvidos por todos os órgãos,
tendo olhos à flor da pele. A brisa fresca abraçando-o e invadindo seu interior,
num momento de contentamento que deixa explodir em si uma alegria sublime. A
alegria de apreciar a vida. Alegria que emana o amor por todas as coisas. Amor
que é natural ao homem. Homem que é, antes de qualquer coisa, um ser espiritual
inclinado à compaixão, em busca de consciência e a favor da paz – pronto para
ser feliz.
Inventar coisas para se contentar é construir
infelicidade. Precisamos apreciar a vida. Em A Complicada Arte de Ver,
Rubem Alves descreve uma experiência de Alberto Caeiro que podemos usar para
ilustrar o que muitos mestres espirituais orientam. “Disse haver aprendido a
arte de ver com um menininho, Jesus Cristo fugido do céu, tornado outra vez
criança, eternamente: ‘A
mim, ensinou-me tudo. Ensinou-me a olhar para as coisas. Aponta-me todas as
coisas que há nas flores. Mostra-me como as pedras são engraçadas quando a
gente as têm na mão e olha devagar para elas’”. A felicidade aí está, basta ter
olhos para ver.
2 comentários:
Gostei muito deste texto e do seu blog, parabéns! Também estou neste processo de aprender a contemplar a vida, e é sempre bom ler textos assim para não nos esquecermos deste caminho. _/\_
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